sábado, julho 09, 2011


Dê play na música antes de ler.

“Aquela era só mais uma história. Não uma história entre um homem e uma mulher, mas entre duas melhores amigas.
Ambas tinham 15 anos e se conheciam desde de pequenas. Alice fazia o estilo romântica, sonhadora e emotiva. Já Danielle era mais radical, adorava sair e ouvir música alta. As duas eram completamente opostas.
Um dia, em plenas férias, elas estavam sentadas na varanda da casa de Danielle, ouvindo as músicas do mp4 de Alice. Então começou a tocar uma música mais calma. Danielle não a conhecia, mas ficou escutando. Quando chegou no refrão, Alice começou a cantar baixinho:  “Where did I go wrong, I lost a friend somewhere along in the bitterness. I would have stayed up with you all night, had I known how to save a life…” (How to save a life – The Fray). Danielle não gostava daquele tipo de música, era tudo meloso demais para ela.
Danielle: Que música ruim, Li. – disse ela tirando o fone do ouvido.
Alice: Por quê? Essa música é linda!
Danielle: Só você mesmo para ficar ouvindo essas músicas melosas.
Alice: Melosa? Cara, a música fala sobre como salvar uma vida! Imagina, você salvar a vida de alguém e essa pessoa viver por sua causa…
Danielle: Eu não daria minha vida por ninguém.
Alice: Credo Dani, como você é sem coração…
Não demorou muito para que as aulas voltassem. Mas aquele ano seria diferente, já que elas estariam numa nova escola, com gente diferente, gente que elas nunca viram na vida e agora, teriam que conviver diariamente.
No início foi um pouco difícil para as duas, pois cada uma havia ficado numa sala. Mas, depois, tudo foi ficando melhor e elas até fizeram novas amizades. Porém, essas amizades começaram a mexer com a cabeça de Danielle. Suas novas amigas eram muito diferentes de Alice. Elas eram meio barra pesada, do tipo que se juntava na hora do intervalo para ficar zoando dos alunos mais nerds. E também, viviam chamando Danielle para lugares diferentes e perigosos. Aquilo começou a preocupar Alice, mas, por mais que ela tentasse convencer Danielle de que aquelas amizades não eram boa idéia, ela simplesmente ignorava.
Um dia, ao passar pelo corredor principal da escola, Alice viu o grupinho em que Danielle ficava e foi até ela, para conversarem. Mas uma das meninas começou a zoá-la antes que ela chegasse perto de Danielle e esta, ao invés de defendê-la, ajudou a zoar. Aquilo magoou tanto Alice, que ela não quis ver sua amiga pelo resto do dia. Mas no caminho de casa, as duas se encontraram e começaram a discutir.
Alice: Você mudou demais, Danielle. Você não é mais aquela menina que eu conheci há anos atrás. Olha no que você se tornou!
Danielle: Ah, então é isso? Só por que eu mudei você não vai mais ser minha amiga? Só por que agora eu sou eu mesma? Isso te afeta? Deve afetar, porque eu sei que agora eu sou o que você sempre quis ser.
Alice: Eu nunca quis ser assim!
Danielle: Sempre quis sim! Ou você acha que esse seu jeitinho de nerd calada me engana? Por que você não se liberta? – pausou – Quer saber? Dane-se você e esse seu mundinho idiota. Agora quem não quer mais ser sua amiga sou eu. Eu não quero ter uma perdedora como amiga.
E dizendo isso, Danielle saiu, deixando Alice sozinha.
Os dias passaram e Alice não apareceu na escola. No início, Danielle pensou que ela estivesse magoada. Depois, chegou a cogitar a idéia de que ela tinha se transferido, mas, depois ficou sabendo que não era isso. Era pior. Ela foi à casa dela, e uma tia de Alice lhe disse que ela havia tido um ataque cardíaco, depois de uma briga que ela tivera na escola. E que agora ela estava entre a vida e a morte, precisando de um transplante de coração. Danielle ficou em choque, não sabia o que fazer. Ela se sentia mais culpada que tudo. E agora? Ela não poderia deixar sua melhor amiga morrer assim, por sua causa. Então, deixou dois bilhetes em cima da mesa da cozinha e saiu, indo até uma ponte não muito longe dali.
Uma semana depois, Alice acordou. O transplante tinha sido um sucesso, mas, mesmo ela perguntando sobre quem tinha sido o doador à sua mãe, esta, nunca falava. Ela perguntou por Danielle algumas vezes, mas ela não tinha ido visitá-la sequer um dia. Ela tinha esquecido de Alice e agora Alice deveria esquecê-la, para sempre. Quando finalmente teve alta, foi para casa. Ao entrar no seu quarto, sentiu algo estranho ao ver as fotos de Danielle e ela num quadro. Então, viu sua mãe na porta. Ela lhe entregou um bilhete dobrado em dois. Na parte de fora estava escrito “De Danielle para Alice”. Alice não queria ler. Devia ser algum pedido de desculpa, mas agora já não adiantava mais nada, elas não eram mais amigas e não seriam de novo jamais. Porém, a mãe de Alice insistiu e ela, relutante, abriu o bilhete. Assim dizia:
“Onde foi que eu errei? Eu perdi um amigo em algum momento de amargura. Mas eu ficaria a noite inteira ao seu lado, se eu soubesse como salvar uma vida…”
Aquilo… Aquela era a letra da música que Danielle disse ser melosa… Agora Alice entendia tudo. O coração que batia em seu peito era de sua melhor amiga. Ela havia se jogado da ponte e no outro bilhete que deixou para sua mãe, ela pedia que seu coração fosse doado à Alice.
Alice chorou por 4 dias e 4 noites, sem parar. No 5º dia, ela foi até o túmulo onde estava o corpo de Danielle. Então, pôs algumas flores sobre ele, ajoelhou-se e encostou sua testa na lápide. Naquele momento ela se permitiu chorar, pela última vez e, entre as lágrimas e soluços, sussurrou: Agora você já sabe… Obrigada.

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